“Há nos confins
da Hispania um povo que nem se governa nem se deixa governar” terá dito Caios
Julius Caesar por volta de 67 a.C.. Escaparia ao Questor da Hispania Ulterior,
Júlio Cesar (futuro fundador da Roma Imperial), o facto de não se tratar de um
povo mas de uma coalizão reunida para enfrentar a invasão romana, contando mais
de uma dezena de povos distintos com chefias autónomas e ocupando diferentes
aéreas do território?! Certamente que não, até porque os romanos terão jogado
com as diferenças entre esses povos ou tribos, no intuito de quebrar a resistência
ao seu avanço; debalde, pelo menos durante os oito anos em que as forças desses
povos, a quem os romanos denominaram lusitanos, foram chefiadas por um tal
Viriato. Ao invés, a sua frase espelharia, justamente, essa miscelânea resultante
da agremiação de diferentes ocupantes do território que hoje é Portugal (acrescida
de uma parte da actual Extremadura espanhola). Recordar tal frase do Júlio
encontra, porém, eco nessa atitude estulta que anima muitos portugueses, sejam
eles caciques locais, insuspeitos edis, ou simplesmente chefes de família, que
opinam com veemência e absoluta convicção sobre tudo e todos. Terão razão nas
críticas que tecem aos que lideram os destinos e a sorte do país, basta
apreciar os resultados; mas é a disparidade dos argumentos e a inexistência de
fundamentação credível e aceitável que confere actualidade à frase de César.
E no entanto a História
só se repete porque insistimos em ignorá-la.
Atualizado em 2013.09.09 16:00 com comentário de Luís Fraga da Silva:
«A frase de Júlio César é tão falsa quanto repetida na net! Não lhe posso dizer quem será o autor mas não passa de uma das muitas falsificações modernas dos clássicos para estimular o orgulho bairrista/nacionalista, fraude em que os autores portugueses e espanhóis são useiros e vezeiros desde, pelo menos, o séc. XVI. A frase tem como base o "discurso" de César aos turdetanos da Bética após a sua vitória na batalha de Munda em 45 a.C. contra o partido pompeiano. Porém o próprio "discurso" é considerado uma fabricação literária/retórica, muito comum nos autores da época.»
Atualizado em 2013.09.09 16:00 com comentário de Luís Fraga da Silva:
«A frase de Júlio César é tão falsa quanto repetida na net! Não lhe posso dizer quem será o autor mas não passa de uma das muitas falsificações modernas dos clássicos para estimular o orgulho bairrista/nacionalista, fraude em que os autores portugueses e espanhóis são useiros e vezeiros desde, pelo menos, o séc. XVI. A frase tem como base o "discurso" de César aos turdetanos da Bética após a sua vitória na batalha de Munda em 45 a.C. contra o partido pompeiano. Porém o próprio "discurso" é considerado uma fabricação literária/retórica, muito comum nos autores da época.»
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