1
«Uma fotografia é também uma imagem,
um objecto (uma folha de papel ou um ecrã numa máquina digital), um documento
(que, no dizer errado, vale mil palavras). Já agora, a citação correcta é: “um
olhar vale mil palavras”, ou “uma fotografia vale dez mil palavras”, ambas
inventadas como provérbios orientais por um publicitário americano, Frederick
R. Barnard, em 1921» daqui
2
Não tenhamos a menor dúvida que a
fotografia, ao ser influenciada pela pintura também a influenciou e de tal
forma que lhe motivou profundas alterações. Vejamos: foi a fotografia que
proporcionou o facto da pintura se libertar da necessidade de replicar a
realidade. Alheia a esta situação não ficou a corrente Impressionista, que se
desagrilhoou dos preceitos do Realismo e da Academia. Aos Impressionistas já
não interessava o retrato fiel da realidade, mas em ver o quadro como obra em
si. Advém desta situação a conclusão que a fotografia estava mais bem
posicionada e apetrechada para captar o naturalismo e o realismo que a pintura.
A clareza deste assunto é por demais evidente. Também, por ouro lado, a
fotografia se colocava em melhor posição para obter o movimento da temática a
reproduzir, influenciada pela corrente Futurista.
....
A fotografia, ao exibir “realidades”
naturais, urbanas, humanas, sociais, fantásticas, absurdas, realistas,
surrealistas torna-se transversal a toda a temática e mensagem representativa
da arte contemporânea.
…
Analisando as temáticas contempladas
na fotografia artística contemporânea há todo um “revisitar” de temáticas
passadas, mas com roupagem e em composições actuais.
O fotógrafo converte uma rua da
cidade, um momento, o olhar de uma criança, de um velho, a solidão dum homem em
mitos, em concepções imagéticas que transportam o espectador para novas, e por
vezes velhas, dimensões.
A fotografia contemporânea, tal como
a pintura, têm na sua essência a criação de metáforas, de conotações, de
analogias diversas, conseguindo converter a objectividade em subjectividade. O
visível não é necessariamente aquilo que se nos é apresentado perante os olhos.
…
A fotografia percorreu todo um
caminho que, em várias épocas foi apenas o seu, alheada da História da Arte, mas
que hoje se integra e constitui um verdadeiro ramo da História da Arte
Contemporânea. daqui
3
A Fotografia é uma mentira.
Quantas vezes a expressão capturada
pelo disparo instantâneo da minha câmara fotográfica registou uma realidade
inexistente? Quantas expressões de transição, esgares de pré-expressão
significativa e que, assim, antecipadamente registadas não significam nada de
real? Clarifico: qualquer um de nós já produziu/ostentou uma expressão de
interrogação, logo seguida de outra, de espanto. Acontece, p. ex. quando
acompanhamos a evolução de um truque de ilusionismo.
Mas entre estas duas expressões,
outra completamente diferente pode ser produzida, se uma comichão no nariz ou
uma contracção de bochecha ocorrerem. E se nesse momento a máquina fotografar
regista um instantâneo que não tem qualquer significado na vida do retratado,
foi apenas um fugaz trejeito fisionómico. E assim, uma foto que até pode ser
magnífica, é um logro… é um logro ou…
…. uma reinvenção da realidade. Pois
onde cabe a criatividade artística, senão aqui?
Deixemos por agora a discussão,
pertinente, da intencionalidade do acto criativo e fixemo-nos neste aspecto:
Criação artística. E atentemos nesta breve afirmação de Nietsche: “nenhum
artista tolera o real”.
Eis-nos num interessante ponto de
partida para abordar a criação de imagens. E porque quase tudo já foi dito
continuemos com os bons discursos. De Gaston Bachelard: “Pretende-se que a imaginação
seja a faculdade de formar imagens. Ela é antes a faculdade de deformar as
imagens fornecidas pela percepção, é sobretudo a faculdade de nos libertar das
primeiras imagens, de mudar as imagens. Se não houvesse mudança de imagens,
união inesperada de imagens, não havia imaginação, não havia acção imaginante.
Se uma imagem presente não faz pensar uma imagem ausente, se uma imagem
ocasional não determina uma prodigialidade de imagens aberrantes, uma explosão
de imagens, não há imaginação...”.
E mais adiante: “… O valor de uma imagem mede-se pela extensão da sua auréola
imaginária.”. E eu remato:
uma fotografia tem o direito, tem o dever, terá até a obrigação de nos
transportar para outra imagem, para outra ideia, que não só a que ela
graficamente documenta. E termino, citando Humberto Eco: “…não se pode recusar a riqueza
de impressões e de descobertas que em toda a história da civilização os
discursos por imagem deram aos homens…”.
F. Castelo
4
A Fotografia gera uma consciência
que se define mais pelas relações intelectuais que constrói do que pela
exposição do real que tenta reproduzir.
5
Até certo ponto, a fotografia é sempre uma mentira, independentemente
do seu objecto, por duas grandes razões: por um lado, captura só um determinado
momento, ignorando os que o antecedem ou precedem; por outro, captura só um
determinado enquadramento, evitando todo o resto do cenário... Isto não é bom
nem mau, é a fotografia... Um prazer...
A fotografia maravilha-nos com a verdade e
confunde-nos com a mentira.
Por isso tenho dificuldade em escolher entre a verdade e a mentira...
Por isso tenho dificuldade em escolher entre a verdade e a mentira...
luiS migueL diaS martinS Gonçalves
6
A Fotografia é um elemento indispensável para o estudo
da história do século XX e por esse facto facilmente reconhecemos que as
colecções de postais ilustrados e de fotografias, públicas e privadas,
constituem um veículo privilegiado para o reavivar da memória e para a
interpretação do passado. Porém, a fotografia representa apenas uma semelhança
com a realidade e deve ser abordada pela História como um signo, um ícone, como
representação de um momento específico, e nunca como uma prova irrefutável do
passado.
7
A fotografia foi uma das
mais marcantes invenções do século XIX. Não só porque veio libertar as artes
plásticas e despoletar o aparecimento do cinema, anunciando a vasta panóplia
dos meios audiovisuais de hoje mas também porque protagonizou profundas
mudanças nas formas de relacionamento, documentou mudanças sociais e acelerou a
dinâmica de uniformização cultural, prenunciando a Globalização.
No início do século XX, a profusão
de imagens de paisagens, remotas ou urbanas, permite uma nova percepção do
espaço, da sua geografia e das distâncias. O horizonte do conhecimento, logo as
perspectivas culturais, artísticas e científicas, alargam-se. O mundo
principia, então, a ser efectivamente conhecido.
As fotografias começam a substituir
as palavras – nem sempre da melhor forma, raramente discursando ao mesmo nível
–, e a imagem banaliza-se mercê da possibilidade que cada um passa a ter, de a
poder fabricar, reproduzindo ou reinterpretando o real. A imagem liberta-se do
feudo artístico e do controlo dos dotados, universaliza-se. Potencia e cria
novas oportunidades artísticas mas, sobretudo, permite a cada um a
possibilidade de construir ícones, ainda que com maior ou menor criatividade. E
fixa, congela permanentemente o rosto, os rostos de gente próxima ou distante,
estabelecendo padrões ou revelando traços exóticos, ampliando a aceitação da
variedade humana. Esta é a grande revolução que a Fotografia opera, ao permitir
o registo do retrato de cada cidadão, de todos os cidadãos indistintamente, sejam
ricos ou pobres. E assim estabelece uma nova dimensão da identidade e das
técnicas da identificação. Com a Fotografia, o homem aproxima-se do mundo em
que vive e, simultaneamente, do seu semelhante.
F.Castelo
8
Os fotógrafos lidam com momentos tão
efémeros que quando se desvanecem não há nada no mundo que os refaça.
(segundo ideia de
Cratier-Bresson)
9
..." na foto, qualquer coisa se
colocou diante do pequeno orifício e lá ficou para sempre (É essa a minha
convicção); mas no cinema qualquer coisa se passou diante desse mesmo
orifício: a pose é arrastada e negada pela sucessão contínua das
imagens..."
..." As sociedades antigas encontraram um meio de fazer com que a memória, substituto da vida, fosse eterna e que, pelo menos, a coisa que falava da Morte fosse ela própria imortal: era o monumento. Mas, fazendo da Fotografia, mortal, o testemunho geral e como que natural "daquilo que foi", a sociedade moderna renunciou ao monumento. Paradoxo: o mesmo século inventou a História e a Fotografia. Mas a História é uma memória fabricada segundo receitas positivas, um puro discurso intelectual que abole o tempo mítico; e a Fotografia é um testemunho seguro, mas fugaz, de modo que tudo, hoje, prepara a nossa espécie para esta impotência: em breve já não poder conceber, afectiva ou simbolicamente, a duração. A era da Fotografia é também a das revoluções, das contestações, dos atentados, das explosões, em suma, das impaciências ..."
..." As sociedades antigas encontraram um meio de fazer com que a memória, substituto da vida, fosse eterna e que, pelo menos, a coisa que falava da Morte fosse ela própria imortal: era o monumento. Mas, fazendo da Fotografia, mortal, o testemunho geral e como que natural "daquilo que foi", a sociedade moderna renunciou ao monumento. Paradoxo: o mesmo século inventou a História e a Fotografia. Mas a História é uma memória fabricada segundo receitas positivas, um puro discurso intelectual que abole o tempo mítico; e a Fotografia é um testemunho seguro, mas fugaz, de modo que tudo, hoje, prepara a nossa espécie para esta impotência: em breve já não poder conceber, afectiva ou simbolicamente, a duração. A era da Fotografia é também a das revoluções, das contestações, dos atentados, das explosões, em suma, das impaciências ..."
Roland Barthes - A Câmara Clara
10
“… Existe na comunicação por imagem algo de
radicalmente limitativo, de insuperavelmente reaccionário… a imagem é o resumo
visual e indiscutível de uma série de conclusões a que se foi chegando através
da elaboração cultural; e a elaboração cultural que se serve da palavra
transmitida por escrito, é apanágio da elite dirigente, ao passo que a imagem
final é construída para a massa submetida…” Humberto Eco.
11
“A fotografia é a transcrição
arbitrária do real a partir de uma decisão individual, do olhar de um autor
mobilizado por suas indagações que, acumpliciado com a luz e intermediado por
aparatos e processos tecnológicos, consigna suas percepções de vida e partilha-as
com quem estiver interessado”.
Luis Humberto
12
"O historiador precisa situar a
fotografia em um determinado tempo e espaço e perceber as suas alterações e do
contexto. O oficio do historiador consiste na realização da critica interna e
externa do documento e, nesse sentido, alguns métodos de análise permitem-lhe a
leitura dos documentos visuais” (CANABARRO 2005).
Os autores especialistas em
fotografia e na análise visual como Barthes, Kossoy e Mauad são unânimes no
sentido de que para avaliar um documento visual é necessário atentar para três
pressupostos básicos e inerentes à própria história: expressão e conteúdo,
tempo e espaço, percepção e interpretação.
13
“toda captação da mensagem
manifestada se dá através de arranjos espaciais. A fotografia é uma redução, um
arranjo cultural ideológico do espaço geográfico num determinado instante”
Mirian Moreira Leite
14
Se a luz é a base da fotografia, o elemento
humano resta como o seu devaneio mais procurado. É a sedução eterna pelas suas
formas, a sua fragmentação, a magia dos seus significados, a comunhão de
maravilha entre o que sentimos em nós e nos outros. Uma mão que se evoca, um
rosto que explode, um corpo que se profana, um vulto que se escoa. E a aura de
mistério, a sedução do sugerido porque não mostrado, a capacidade da
surpresa e da perturbação, numa construção em rigor arquitectónico de corpos e
espaços, sempre levam a uma galeria de sentimentos. Imagens capazes do desafio
da comoção, sugadas do quotidiano num vislumbre do humano, acabam
por ser aquilo que resulta de um olhar emocionado."
Carlos Manuel Marques
Discurso de Annie Leibovitz, Premio Príncipe de Asturias de Comunicación y Humanidades, 2013.
15
"No Convento dos Lóios desta cidade se tirão
retratos ao Daguerreotypo por 1$440 reis, as pessoas que quizerem utilizar-se
deste bello invento podem dirigir-se ao dito edeficio todos os dias das 10
horas ao meio dia. (Chronica Eborense, Anno I, n.º 7, 3 de Fevereiro de
1847)".
16
Discurso de Annie Leibovitz, Premio Príncipe de Asturias de Comunicación y Humanidades, 2013.
Sem comentários:
Enviar um comentário