«Ser
da província ou ser provinciano não é a mesma coisa. Há provincianos nas
grandes cidades e gente cosmopolita em aldeias. Uma aldeia pode gerar cidadãos com
uma visão plural do mundo e uma cidade pessoas pequeninas na visão das coisas.
O cosmopolitismo não corresponde à situação de se viajar muito, de se
“conhecer” o mundo — há gente que viu o mundo todo sem ter visto mais que o
próprio umbigo. O verdadeiro cosmopolita não precisa de dizer que foi à Argentina,
que tem amigos em Sydney ou negócios em Xangai. Que tem casa em Paris ou passa
férias na Toscânia. Que esteve um ano em Cape Town e escreveu histórias sobre a
América profunda. O verdadeiro cosmopolita não se vê como um português que é
mais “civilizado” que os outros. Que fez mais milhas, que fala mais línguas. O
cosmopolitismo não corresponde a uma espécie de erudição feita viagem,
comparando o cosmopolita com quem não é. O cosmopolitismo é acima de tudo,
sentir-se bem em diferentes lugares, com diferentes pessoas, não renegando a
própria identidade e exercendo a alteridade, gerando sobre as duas sucessivas
oportunidades de alargamento. Assim, um cosmopolita não “vai ao estrangeiro”,
pois, de alguma forma, vá onde vá, está sempre em casa e não precisa de o
anunciar, repetidamente, a toda a gente.» – Jorge Barreto Xavier
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