Se afirmasse que nutro especial gosto por viajar, incorreria em manifesta falsidade; contudo, não deixo de reconhecer a relevância dessas deambulações para a formação e instrução do espírito humano. Foi, pois, em virtude dessa consciência — e aproveitando o repouso proporcionado pelas férias — que resolvi empreender uma deslocação até... Odiáxere.
A palpitante vila do barlavento algarvio, que — como é sabido — se encontra situada entre o barrocal, embelezado pela imponente barragem da Bravura, e o litoral, graciosamente emoldurado pela esplêndida Meia Praia, acolheu-me com generosa hospitalidade durante os escassos vinte minutos que por lá permaneci.
Não dispondo de tempo bastante para uma visita exaustiva — pois é muito o que naquela vila se oferece ao olhar atento do forasteiro —, limitei-me à travessia da rua principal, onde, numa vetusta casa comercial, reminiscente de outros tempos, se alinhavam, logo à entrada e em posição quase cerimonial, dois auspiciosos fogareiros. Eram desses mesmos que servem com primor para assar, com eficiência e deleite, as anafadas e suculentas sardinhas da estação.
No interior daquela que mais se assemelhava a uma drogaria de antanho — verdadeira cápsula do tempo —, deparei-me com tal variedade de objectos que me senti como que num museu estonteante, rodeado por peças de design pretérito e arte contemporânea, justapostas numa disposição que faria empalidecer de inveja as galerias mais sofisticadas de Manhattan.
E Louvre, por alma de quem?! Se nem a enigmática Mona Lisa lograria ombrear com os calendários regionais ou os cartazes de produtos químicos que ali se exibem com despretensiosa nobreza!
Fui cortesmente recebido pela curadora do espaço — senhora de trato amável — e adquiri, com júbilo, quatro excelentes mosquetões/porta-chaves, que em vão procurara, durante anos, em lojas de inspiração oriental, desacertadamente reputadas de versáteis.
Foi, pois, uma jornada breve, mas memorável, e decerto digna de repetição... num ano destes.
Os meus agradecimentos à Senhora Fátima Santos e à sua loja singular, onde, por misterioso desígnio, acabo invariavelmente por encontrar aquilo de que verdadeiramente necessito.
Sem comentários:
Enviar um comentário