Insónia #6328


 

A consciência de que vegeto na mediocridade é um incómodo, como deve ser para qualquer espírito que se pretenda livre. O meio corrompe o indivíduo; eu sou produto do meio e a isso não posso esquivar-me de todo.

Mas este factor condicionador não pode servir de desculpa para não evoluir. Mesmo sem abraçar causas quixotescas ou acção de missionário de uma qualquer verdade em que acredite, é sempre possível fazer algo para contrariar a influência perniciosa, decadente e corruptora, do meio que me rodeia.

A solução consiste em procurar permanentemente conviver com pessoas em que reconheça qualidades, que de alguma forma me inspirem, com quem possa aprender algo. E afastar-me daquelas pessoas que não têm consciência de nada disto, que não reflectem sobre o mundo e a vida, que permanecem enterrados no lodo e dali não tentam evadir-se. Pessoas com quem pouco ou nada terei a aprender. «Aprende-se sempre alguma coisa com o outro» é apenas um dos muitos disparates inventados para justificar a mediocridade porque, na verdade, depende de quem é esse outro.

É imperioso tentar superar o resultado daquilo que sou. É condição incontornável para qualquer tipo de evolução. E, o facto, é que eu sou apenas uma síntese, uma espécie de média, das pessoas com quem me relaciono e que mais me influenciam, sejam inteligentes ou idiotas.

Acerca do seu sucesso, o grande Newton terá dito, ou escrito: “Se cheguei aqui foi porque me apoiei no ombro de gigantes”, referindo-se certamente às influências de Galileu e Kepler na sua teoria da Gravidade. Mas onde estão os meus gigantes?

Ora, os gigantes de hoje raramente são aquelas figuras destacadas, mediáticas, poderosas que vemos desfilando nas telas televisivas. Aliás, a maioria desses, em todos os níveis e sectores da sociedade, integram o exército dos grandes truões ou vigaristas. E, por isso, tanto condicionam e corrompem o meio e, consequentemente, as sociedades.

Os gigantes de que falava Newton estão, agora, escondidos pela selva ululante de idiotas que gritam todo o tipo de disparates nas redes sociais, nas caixas de comentários de jornais, nas manifestações públicas de desagrado com aquela situação política ou ambiental. Parafraseando Umberto Eco: A TV já tinha colocado o idiota da aldeia num patamar no qual ele se sentia superior. O drama actual é que os meios de comunicação de massas promovem esse idiota a portador da verdade.

Não são todos completamente imbecis, mas escondem no seu seio, e não deixam falar, os poucos que fazem uso da inteligência; e é tarefa difícil incitar estes a partilhar o saber e o conhecimento. Enxovalhados, denegridos, vaiados, retraem-se. Alguns, mais enérgicos e com púlpito, são repetidamente apupados pela canalha ignara e retrógrada que incendeia culturas, tradições e a própria História e incenseia doutrinas minoritárias demenciais: o indígena-vítima; a cancel culture; o anti-especismo, a teoria de género; o movimento woke; a novilíngua, e outras merdas semelhantes.

Vejo-me mergulhado nesta decadência civilizacional sabendo que não se trata de um determinismo histórico, mas tão somente uma consequência do exercício da irracionalidade que ignora os erros do passado na construção do presente. E nada fazemos, nada faço, para alterar isto.

Daqui a pouco nasce o Sol. Que belo futuro vem aí.

Sem comentários: