A consciência de que vegeto na mediocridade é um incómodo,
como deve ser para qualquer espírito que se pretenda livre. O meio corrompe o
indivíduo; eu sou produto do meio e a isso não posso esquivar-me de todo.
Mas este factor condicionador não pode servir de desculpa para não evoluir.
Mesmo sem abraçar causas quixotescas ou acção de missionário de uma qualquer
verdade em que acredite, é sempre possível fazer algo para contrariar a influência
perniciosa, decadente e corruptora, do meio que me rodeia.
A solução consiste em procurar permanentemente conviver com pessoas em que
reconheça qualidades, que de alguma forma me inspirem, com quem possa aprender
algo. E afastar-me daquelas pessoas que não têm consciência de nada disto, que
não reflectem sobre o mundo e a vida, que permanecem enterrados no lodo e dali
não tentam evadir-se. Pessoas com quem pouco ou nada terei a aprender.
«Aprende-se sempre alguma coisa com o outro» é apenas um dos muitos disparates
inventados para justificar a mediocridade porque, na verdade, depende de quem é
esse outro.
É imperioso tentar superar o resultado daquilo que sou. É condição
incontornável para qualquer tipo de evolução. E, o facto, é que eu sou apenas uma
síntese, uma espécie de média, das pessoas com quem me relaciono e que mais me
influenciam, sejam inteligentes ou idiotas.
Acerca do seu sucesso, o grande Newton terá dito, ou escrito: “Se cheguei aqui
foi porque me apoiei no ombro de gigantes”, referindo-se certamente às
influências de Galileu e Kepler na sua teoria da Gravidade. Mas onde estão os
meus gigantes?
Ora, os gigantes de hoje raramente são aquelas figuras destacadas, mediáticas,
poderosas que vemos desfilando nas telas televisivas. Aliás, a maioria desses,
em todos os níveis e sectores da sociedade, integram o exército dos grandes
truões ou vigaristas. E, por isso, tanto condicionam e corrompem o meio e,
consequentemente, as sociedades.
Os gigantes de que falava Newton estão, agora, escondidos pela selva ululante
de idiotas que gritam todo o tipo de disparates nas redes sociais, nas caixas
de comentários de jornais, nas manifestações públicas de desagrado com aquela
situação política ou ambiental. Parafraseando Umberto Eco: A TV já tinha colocado
o idiota da aldeia num patamar no qual ele se sentia superior. O drama actual é
que os meios de comunicação de massas promovem esse idiota a portador da
verdade.
Não são todos completamente imbecis, mas escondem no seu seio, e não deixam
falar, os poucos que fazem uso da inteligência; e é tarefa difícil incitar
estes a partilhar o saber e o conhecimento. Enxovalhados, denegridos, vaiados,
retraem-se. Alguns, mais enérgicos e com púlpito, são repetidamente apupados
pela canalha ignara e retrógrada que incendeia culturas, tradições e a própria
História e incenseia doutrinas minoritárias demenciais: o indígena-vítima; a
cancel culture; o anti-especismo, a teoria de género; o movimento woke; a
novilíngua, e outras merdas semelhantes.
Vejo-me mergulhado nesta decadência civilizacional sabendo que não se trata de
um determinismo histórico, mas tão somente uma consequência do exercício da
irracionalidade que ignora os erros do passado na construção do presente. E
nada fazemos, nada faço, para alterar isto.
Daqui a pouco nasce o Sol. Que belo futuro vem aí.
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