PONTO FINAL


Esta cidadezita é mesmo muito pequena. Vejam lá, que a propósito da edição de um livreco que pretende apenas exercitar a escrita, impedir a continuada revisão do pouco que a incipiente escrituração encerra, estabelecer um ponto de partida no domínio da construção literária para outros voos possíveis, e porque foi apresentado e distribuído a escassa meia centena de convidados, amigos e responsáveis pelo incentivo a escrever e publicar; aos primeiros, porque os amigos servem para aguentar as estopadas, aos segundos porque devem arcar com a co-responsabilidade do resultado desse estímulo – decorrendo o evento nas margens de uma Cafetaria, e não como inicialmente previsto, apenas distribuído mão a mão a amigos e a três ou quatro pessoas cuja opinião técnica me interessa –, fui alvo de rasgados elogios. Assim aconteceu, logo na apresentação (o que é compreensível), mas também num jornal online e, até, entrevistado para uma rádio local. Só num meio tão pequeno um peido fugidio libertado no centro de um arraial popular pode constituir notícia.
Ah! E já me esquecia da referência no blogue local dos grilos falantes, essas consciências anónimas que abnegadamente prestam um judicioso serviço à comunidade – antes preenchido pelas lavadeiras nos tanques de S. João –, vejam lá, que também entendeu prestar homenagem a este sofrível escrevinhador, quase como se de um autor consagrado se tratasse. Bem Hajam! Pois que outra coisa poderei dizer?!
Bem sei que o fundamento destas manifestações se deve às amizades. Essas teias que teimam em ligar as pessoas, sobretudo nestes meios mais pequenos. Lá nisso, é giro. Mas quanto ao resto, ou eu nem percebo o quanto notório sou, ou a malta não tem mais nada para fazer ou de que falar ou… tá tudo doido.
Outra coisa que me deixa suspenso é o facto de algumas pessoas não acreditarem nesta coisa do exercício. Acham que é modéstia, que aquilo até é uma coisa muito porreira, etc e tal. Tão doidos!
Também já me ocorreu que alguns poderão pensar que é desculpabilização. A escrita é insignificante e o gajo, para se safar, diz que é apenas um exercício. Também estão doidos, está claro – que isto, quando ataca, é geral. O conto, se assim se pode chamar, é, não só uma escrita à margem - à margem de outras escritas a que dedico mais atenção -, mas um conjunto de quadros inicialmente desconexos que, depois, ganharam alguma ligação, embora mantendo vincadas incongruências - propositadas umas, involuntárias outras. É uma escrituração inserida no mesmo ciclo de exercícios que incluem as outras escritas que prossigo, no intuito de melhorar a forma. Pode ser que algum dia escreva algo verdadeiramente interessante mas, para isso, terá que ser redigido em feitio que me agrade (chegada à que gosto de ler nos escritores que admiro).
Mas, mais insólita, é a suspeita de que há ainda uns outros que pretendem vislumbrar ali, no livreco, empreendimento medonho: algum ataque, ou preparação de ataque, a terceiros ou a eles próprios. Ora, eu, que sempre consegui rir de mim próprio, das minhas patetices, das situações que as originaram e dos resultados que daí advieram - neste particular só sou diferente da maioria, na medida em que sou capaz de soltar esse riso, já que em termos de produção patética, por mais que me esforce, não consigo destacar-me dos demais, eles é que não têm consciência disto mas, adiante, ou não acompanho com os dedos no teclado o enfileirado de palavras que brotam não sei de onde. E então, havia de escrever e publicar algo para atacar terceiros? Com que propósito? Acertos de contas com gente que errou, talvez gente perversa e velhaca? Ora, isso seria dar maior importância a essas pessoas. Insanos, esses temerosos, pois claro.
Pois claro que a escrita do Claustro Fobias é uma preparação para outros “ataques”. Atacar a folha em branco, decorá-la com imagens desenhadas pelas palavras. Integrar num simples dado histórico, numa historieta, num aforismo, num incidente, elementos biográficos, um poema, o significado de um gesto ou de um olhar e muita, muita imaginação. Mas, tudo isso só tem valor, se estiver bem escrito. E para lá chegar preciso burilar estas construções. Gostam desta forma de escrever, gostam? Pois, eu não. Isto não me chega. Nem se aproxima daquilo que gosto de ler.
PONTO FINAL… temporário
;)

7 comentários:

Anónimo disse...

"Ah! E já me esquecia da referência no blogue local dos grilos falantes, essas consciências anónimas que abnegadamente prestam um judicioso serviço à comunidade – antes preenchido pelas lavadeiras nos tanques de S. João (...)"
Muito bom! Muito bem escrito! LOL
:)

todos disse...

Já sei que é o livro das Freiras? E o papel é macio ou não dá serventia?

LOL


Sábado à noite na Luz?

éf disse...

Não posso. Tou de serviço nos bolinhos.

Combinaste com o ppl?

Abraço.

vanus disse...

Pelo menos parece ter sido animado. Mas tens cá uma lata... então tu escreves e ainda por cima dás o ponto final na crítica? :))

éf disse...

vanus: é um ponto final temporário. comigo nada é definitivo. guardo as coisas boas para ir retribuindo ao longo da vida, e guardo as coisas más para responder algures, durante a vida. toda a vida, se for preciso. à simpatia respondo, naturalmente, com amor, à perfídia respondo, friamente, com maquiavelismo.
posso fazê-lo, a vida corre-me relativamente bem.

ND disse...

LOL
não precisas justificar-te quando escreves, mas se publicas, estás lixado. É a vida. Aguenta-te.
:D

éf disse...

Não é justificação, n. É provocação.

;)