o telefonema financeiro


O meu banco telefonou-me ao princípio da tarde, em voz feminina, perguntando-me se eu queria contrair um empréstimo. Quer dizer, não foi bem assim a prosápia da senhora, foi coisa mais polvilhada de vocábulos financeiros com repetida insistência na tripla: “serviços”,  “produtos” e “créditos”.
Foi o segundo telefonema, pois ao primeiro, em registo masculino, atalhei que não era oportuno estando à mesa preparado para almoçar; mas podia ser agora que já estava a trabalhar e o trabalho pode-se interromper, até porque, como toda a gente sabe, não azeda.
Então, confrontado com a desconfortável proposta perguntei quanto me pagavam de juros para eu aceitar.
Logo a voz feminina respondeu que não é assim, mas ao contrário. 
É ao contrário o quê £4#4/%§?! Então, sou eu que vos empresto o dinheiro, é isso?
Ali estava eu a fazer-me desentendido na matéria – embora sem grande esforço, confesso – e do outro lado a voz feminina mantinha-se firme na apologia do serviço, dos produtos, e dos créditos; enfim, falou…falou… e eu no fim sintetizei: - Então quer dizer que vocês emprestam-me dinheiro e eu pago-vos por isso? i. e. vocês emprestam-me dinheiro e eu dou-vos dinheiro?! 
- Mas eu não tenho massa para dar, eu não sou um Banco, pá! Há aqui qualquer coisa que não percebo… 
Na ameaça da retoma da lengalenga sobre o serviço, os produtos e os créditos, impedi o diálogo abruptamente: 
- NÃO QUERO!
- NÃO QUERO QUE ME EMPRESTEM DINHEIRO!
- NÃO QUERO QUE ME EMPRESTEM NADA, EU NEM PRECISO DISSO. NÃO PRECISO. EU NÃO GASTO NADA. EU SOU SUPER-ECONÓMICO. ATÉ USO O PAPEL H DUAS VEZES.
- NÃO QUERO, PRONTOS! E desliguei.

4 comentários:

David R. Oliveira disse...

Como pôde constatar a vida está difícil.

francisco disse...

pois tá, e isto de "alcançar objectivos" tá a matar muita gente.
;)

David R. Oliveira disse...

convenhamos que, dessa morte, morre quem quer. Leio que você optou, bem, por outro tipo de morte.
;)

francisco disse...

hehehehe... tenho preferência por mortes lentas e sem intermediários ;)