O meu banco telefonou-me
ao princípio da tarde, em voz feminina, perguntando-me se eu queria contrair um
empréstimo. Quer dizer, não foi bem assim a prosápia da senhora, foi coisa mais
polvilhada de vocábulos financeiros com repetida insistência na tripla:
“serviços”, “produtos” e “créditos”.
Foi o segundo
telefonema, pois ao primeiro, em registo masculino, atalhei que não era
oportuno estando à mesa preparado para almoçar; mas podia ser agora que já
estava a trabalhar e o trabalho pode-se interromper, até porque, como toda a
gente sabe, não azeda.
Então, confrontado com a
desconfortável proposta perguntei quanto me pagavam de juros para eu aceitar.
Logo a voz feminina
respondeu que não é assim, mas ao contrário.
É ao contrário o quê
£4#4/%§?! Então, sou eu que vos empresto o dinheiro, é isso?
Ali estava eu a fazer-me
desentendido na matéria – embora sem grande esforço, confesso – e do outro lado
a voz feminina mantinha-se firme na apologia do serviço, dos produtos, e dos
créditos; enfim, falou…falou… e eu no fim sintetizei: - Então quer dizer que
vocês emprestam-me dinheiro e eu pago-vos por isso? i. e. vocês emprestam-me dinheiro e eu dou-vos dinheiro?!
- Mas eu não tenho massa
para dar, eu não sou um Banco, pá! Há aqui qualquer coisa que não
percebo…
Na ameaça da retoma da
lengalenga sobre o serviço, os produtos e os créditos, impedi o diálogo
abruptamente:
- NÃO QUERO!
- NÃO QUERO QUE ME
EMPRESTEM DINHEIRO!
- NÃO QUERO QUE ME
EMPRESTEM NADA, EU NEM PRECISO DISSO. NÃO PRECISO. EU NÃO GASTO NADA. EU SOU
SUPER-ECONÓMICO. ATÉ USO O PAPEL H DUAS VEZES.
- NÃO QUERO, PRONTOS! E desliguei.
- NÃO QUERO, PRONTOS! E desliguei.
4 comentários:
Como pôde constatar a vida está difícil.
pois tá, e isto de "alcançar objectivos" tá a matar muita gente.
;)
convenhamos que, dessa morte, morre quem quer. Leio que você optou, bem, por outro tipo de morte.
;)
hehehehe... tenho preferência por mortes lentas e sem intermediários ;)
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