~ Está tudo de cabeça perdida ~
Está tudo de cabeça perdida, como se diz em epígrafe. De súbito não se fala senão no Chega. É que viabilizou um governo de «direita» nos Açores, é que se perfila como incontornável parceiro para futuras negociações com o PSD no continente. Coitado do Costa. Que dores de cabeça lhe provoca o Chega.
Costa não é nem nunca foi inteligente; é apenas manhoso e, portanto, não
percebeu que a geringonça que inaugurou no panorama político nacional era
perigosa e que mais tarde ou mais cedo se iria voltar contra ele. Vai daí ataca
agora o PSD. Que pisou linhas vermelhas, que saiu do convívio democrático pois
que alinhou com um partido que, à falta de melhor argumento, é xenófobo e até
fascista.
Ventura faz muito bem em ironizar com a questão. Costa não
merece outra atitude. Explicar-lhe que o Chega é um partido democrático que vem
aprofundar o convívio legitimador das soluções políticas alcançadas pois que o
seu contributo se mede pela diferença e pela novidade mas sem receio de um
alegado radicalismo que não é senão indignação não vale a pena. Seria
necessário que Costa se cultivasse o que não é sua prioridade e a que é mesmo
completamente arredio. Seria preciso explicar-lhe que a direita sociológica e
cultural existiu sempre em Portugal muito embora de tal evidência o mesmo nunca
se tenha apercebido. Seria preciso ensinar-lhe que o marxismo básico e estúpido
em que a sua formação medrou, a despontar na primeira ocasião, já não alcança
nada e só deforma as coisas. Seria necessário reformá-lo de cima a baixo. Não
vale a pena.
Os argumentos contra o Chega são de grande quilate intelectual.
Vejamos; uns dizem que os açorianos que votaram Chega são mais ou menos
atrasados e analfabetos; apareceu até um energúmeno apresentado como prof. de
uma Universidade açoriana que asseverava que era de incultura e analfabetismo
que se tratava; que outra coisa poderia ser? Santos Costa não teria dito melhor
a justificar a falta de liberdades políticas nas alocuções aos trabalhadores em
Braga em 1946. Que desconsideração pelos açorianos que são e sempre foram uma
parcela do país onde a cultura racional e o espírito crítico desde mais cedo
floresceram.
Outros, mais institucionais,
pretendem que o Chega viola os limites materiais da revisão constitucional sem
lhes passar pelas iluminadas cabeças que estes limites não estão todos ao mesmo
nível e que o Chega descontados, porventura, alguns emotivos excessos de
linguagem, os nunca poria em causa porque é um partido de filiação cristã e
pluralista, temente à dignidade da pessoa humana e apostado na reforma da
democracia política portuguesa mas que não vê na Constituição uma vaca sagrada,
sem prejuízo obviamente do respeito total pela grande maioria das soluções de
tão respeitável diploma.
Outros asseveram que o Chega
prejudica a comunicação própria do «espaço público» democrático. Coitados; não
fazem ideia do que foi a origem histórica, saída da Revolução Francesa e
divulgada na Alemanha oitocentista, da noção de espaço público. O Chega só
alarga o espaço público democrático porque o faz em condições racionais,
acessíveis, abertas ao contraditório e sem coacção. Por muito que custe a
compreender aos ditos «intelectuais» o espaço público não se alimenta só da
vulgata marxista aprendida nas creches da Voz do Operário e nas miseráveis
cartilhas da M. Harnecker e de outros subprodutos como ela.
Querem atacar o Chega? Cultivem-se e chegam lá. Usem argumentos
mais ponderosos e racionais. Se quiserem até vos posso fornecer alguns. E falo
a sério. Deixem-se é de marxismo de pacotilha e de repisar argumentos próprios
do Comintern que fariam inveja ao saudoso camarada Dimitrov. Não percam a
cabeça. Mais elevação cultural, oh zoilos! Mais um esforço e sereis cultivados
e civilizados. É que até dá votos e certamente que nos Açores.
. Luiz Cabral de Moncada
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