Outro Verão de praia com o meu avô. Na verdade o ano é o
mesmo mas eu nada percebo de calendários porque ainda sou pequenino e, para
mim, isto são outras férias.
Desta vez o meu avô deixou-me levar o carro de ladeira ou melhor, ele é que o
levou, entre resmungos e palavras estranhas que ia soltando devido ao enorme
peso do carro que tinha de carregar às costas, e que eu logo ia repetindo para
grande escândalo das senhoras que encontrávamos no caminho.
- Esta porcaria é feita de que madeira, pau-ferro? Dizia ele. O que ele não
sabia, mas iria descobrir em breve, é que o carrito tinha um motor eléctrico e
uma bateria bem escondidos no madeirame, uma brilhante invenção do meu pai, e
por isso pesava tanto.
-Mas avô, para este carro não precisas pagar estacionamento. Dizia eu para lhe
acalmar a irritação e o arrependimento de ter anuído levar o bólide com que ia
subir e descer as dunas e percorrer velozmente os passadiços, exactamente como
o meu herói Faísca McQueen.
Chegados ao local, foi com grande alívio que deixou deslizar o carro para o
chão, quase esmagando a Mel que saltitava entusiasmada em volta daquele
estranho objecto com interessantes rodelas que giravam e desafiavam a
mordiscar.
Aliviado, disse-me: - Olha lá, como isto é pesado, podemos atrelar a Mel e ela
puxa-te pelos passadiços, senão não consegues andar; pode ser?!
Eu respondi que não era preciso e instalei-me dentro do carrinho que foi
progredindo devagarinho, para enorme satisfação do meu avô que já pensava ter
de andar atrás a empurrar.
-Avô senta-te aqui atrás, que há espaço suficiente para os dois. Com um
daqueles breves suspiros que rematam a paciência ilimitada que os avôs carregam
para atender os pedidos mais invulgares dos netos, ele sentou-se atrás de mim e
eu não perdi tempo, liguei o botãozinho do potente motor e eis que desalvorámos
rapidamente rumo ao final do passadiço.
Apanhado de surpresa, ele ainda gritou: -Ai, que bruxedo é este? Enquanto
tentava levantar-se, mas eu disse-lhe que não havia problema e rapidamente
passámos o final do passadiço, galgando as escadas e aterrando no cume de uma
duna. Daí, seguimos sempre pela cumeeira das dunas, terreno mais estável para a
progressão da viatura. Ao nosso lado saltitava a Mel, contente com tal correria
que nos levava em direcção ao Rio de Alvôr.
-Avô vamos ao berbigão?!
O avô, percebendo pelo zumbido eléctrico que afinal se tratava de um carrinho
motorizado, respondeu: - Vamos é às ostras, pode ser que tenham pérolas.
Os avós são mesmo uns mestres da poesia.
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