Já aqui ataquei a medíocre qualidade de alguns produtores de best-sellers “literários” (um português, em especial), esgrimindo as minhas razões para tal qualificação. Assentavam na fraca qualidade formal. Sobretudo numa sintaxe paupérrima. Agora, com ajuda externa, chamo a atenção para uma das dificuldades do romance histórico que advém da necessidade de evitar anacronismos como o que abaixo se exemplifica. Coisa admissível na metaficção historiográfica mas não em outras manifestações literárias do pós-modernismo.
«… o filho de D. João IV e de D. Luísa de Gusmão, dizer à irmã Joana (1635–1653): “— Deixa-te de fitas, Joana. O peixe foi ter com a família dele.” Os meninos estavam a brincar junto de um tanque de pedra no Paço de Vila Viçosa, e o primogénito tinha acabado de lançar para a água um peixinho vermelho que antes apanhara para dar à irmã. (…) E um anacronismo é grave, mata a obra? Se estamos perante um romance histórico, fere-a…» É que o colega bloguista adverte, e muito bem, que o termo “deixar-se de fitas” só poderá ter surgido com o advento do cinema…
Eis porque é tão difícil a escrita de época. Mesmo explorando a metaficção historiográfica, sub-género que recorre e vive dos anacronismos, das suposições escoradas no “e se tivesse sido…” , da equação das opções descartadas e das hipotéticas oportunidades perdidas; mesmo aí não aceito descrever a pequena embarcação de 1400, correspondente ao bote de hoje, com a terminologia naval de 1700 ou outra qualquer que não a da época que represento. Mas é difícil, pois é.
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